Residência em Tijucopava - 3
Distante uma hora e meia de carro da cidade de São Paulo, esta casa foi construída no sopé da Serra do Guararu junto ao mar, à beira da praia.
A Serra do Guararu, parte de uma reserva natural da Mata Atlântica fica no Município do Guarujá, no extremo Leste da Ilha de Santo Amaro, ladeada pelo mar e pelo Canal de Bertioga. É um afloramento da Serra do Mar na baixada. A Serra do Mar é um paredão que chega a 800m de altura, e a Serra do Guararu como parte da mesma, também tem suas escarpas e atinge cerca de 300 metros nos seus pontos culminantes.
Basicamente, direção da Serra é SO-NE (sudoeste – nordeste) e as suas praias normalmente dão frente para SE (sudeste). Assim, normalmente as casas construídas nessa região enfrentam o problema de orientação. Para que se tenha vista para o mar abre-se para uma face que tem pouco sol direto e ventos constantes, frios e úmidos. As casas, usualmente com plantas na geometria ortogonal privilegiam ou a orientação ou a vista. Para resolver essa questão foi adotada nesta casa a geometria triangular para o desenho da planta. Assim, a fachada poligonal com ângulos internos e externos de 120 graus otimiza tanto a orientação quanto a vista para o mar e para a montanha
O terreno tem um desnível abrupto com 15 metros entre a rua e sua parte mais baixa, junto à praia. Ao lado do lote há um córrego que nasce na montanha e deságua no mar. A casa deveria ser recuada a partir do córrego 33 metros, para respeitar a legislação quanto à preservação de cursos de água permanentes. Como as grandes dimensões do terreno permitiam, o recuo obrigatório em relação ao córrego impunha, e a topografia sinuosa sugeria, a casa foi implantada a meia altura entre a rua e a praia, com seu volume facetado encaixado em uma concavidade natural do terreno e elevado, sobre pilotis, em relação à praia.
Apesar da grande declividade do terreno, na implantação houve a preocupação de minimizar cortes e muros de arrimo. Estes se restringem praticamente à rampa sinuosa com 15% de inclinação desce da rua até o nível da praia.
Quando passa pelo nível superior da casa, com os quartos e a área de serviço, a rampa permite a primeira parada, para descarregar as bagagens pessoais, com as roupas, e também as toalhas, lençóis e o material de limpeza que fica na área de serviço. Quando passa pelo nível da sala e da cozinha, a rampa fica mais larga e abre para um estacionamento coberto, de onde todos os mantimentos podem ser descarregados e levados para a despensa ao lado. Deste estacionamento coberto também se faz a entrada na sala, diretamente. Mais abaixo quando a rampa chega no nível do pilotis abre-se um generoso estacionamento para inúmeros carros, barcos e pranchas de surf. Junto ao estacionamento um vestiário garante conforto aos visitantes que vem da praia, e um espaço para os reservatórios de água foi encaixado no porão junto ao terreno que sobe.
No fundo do estacionamento, no pilotis, um hall envidraçado com pé direito triplo contém o início da escadaria que interliga os três níveis da casa. Na chegada à sala o espaço se abre e descortina-se a paisagem em mais de 120 graus, desde o pé do morro à esquerda com árvores e pedras do lugar, passando pela piscina em primeiro plano, a praia atrás até a península no seu término, as ondas, o mar aberto, e finalmente à direita uma ilhota com inúmeras e magníficas pedras, árvores e coqueiros.
A geometria triangular adotada favorece também a ventilação já que durante o dia o vento, a brisa, vem do mar, e à noite o ar frio da montanha com a mata desce e refresca todos os ambientes. As aberturas com ângulos alternados, para dentro e para fora, recebem os ventos de lados opostos, do mar de dia e da montanha à noite.
Quando não há vento, o ar fresco da sombra no pilotis, e no porão, sobe para a sala pelo grande vazio da escada, e depois para o andar dos quartos. O ar quente por sua vez sobe para as aberturas dos lanternins da cobertura. É o fenômeno de ventilação por convecção.
A grande sala, a cozinha e os terraços e a piscina são completamente integrados e com vista para o mar, graças à geometria adotada, que garante a maior fluidez entre os espaços e a circulação, sempre contínua. O desencontro entre as superfícies facetadas a 120 graus gera a alternância sucessiva entre interior e exterior, com a maior integração entre os mesmos. Igualmente no andar superior, o mesmo desenho integra terraços com pares de quartos, com a alternância dentro e fora. É um dos elementos plásticos mais característicos desta casa.
A estrutura de madeira é industrializada. Foi produzida em uma fábrica em São Paulo e as peças prontas, foram montadas na obra. A partir das colunas cilíndricas de concreto do pilotis e do porão, verdadeiros prolongamentos das fundações, pilares de madeira com secção exagonal espaçados a cada 5m estabelecem a trama triangular da planta e apóiam as vigas principais. Uma trama de vigas secundárias com triângulos de 1,25m apóia placas cimentíceas leves e industrializadas, sobre as quais foram fundidas lajes de concreto com 4cm de espessura. No piso da sala e da cozinha, sobre essa estrutura, foram assentadas placas irregulares de arenito, e nos quartos a mesma estrutura foi acabada com assoalho de madeira.