Residência no Morumbi
Sala de estar
Sala de jantar
Estúdio
Lavabo
4 Dormitórios
3 Banheiros
Cozinha
Lavanderia
Dormitório de empregada
Banheiro de empregada
Depósito
Garagem
Estrutura: Concreto armado
Cobertura: Canalete cimento amianto
Laje: Nervurada caixão perdido de cerâmica Selecta
Alvenaria: Tijolos de barro
Escada: Concreto armado
Caixilhos: Madeira
Acabamentos: Argamassa para pintuta epóxi (cozinha e banheiros), tijolo à vista e concreto à vista
Pisos: Tacos e cimento queimado
APRESENTAÇÃO DO PROJETO PARA O CLIENTE
São Paulo, 13 de maio de 1985.
Meu caro Hugo,
Fruto do nosso último encontro, das observações da Beth e suas sobre o primeiro estudo, das minhas intenções e propostas para a casa e das condições "geográficas" (topografia, orientação, paisagem e subsolo) do terreno, aqui vai o segundo estudo:
1. Uma estrutura econômica - O subsolo de fundo de vale, e com lençol d'água pouco profundo, como vocês já sabem, vai obrigar o uso de estacas de 10 m de comprimento. As mais econômicas são as pré-moldadas de concreto. Seu transporte e as manobras necessárias para colocá-las em pé e cravar fazem que, com este comprimento, tenham uma secção de 20 x 20 cm. Este corresponde a uma resistência para 20 toneladas. Por outro lado, a área prevista no programa de vocês obriga que tenhamos ao menos 8 estacas destas para suportar sua carga. Assim, procurei equacionar esse dado com a vontade de resolver a obra com vãos sensatos (6m no máximo) e elegi o seguinte esquema estrutural: (Ver croquis 1)
Serão 8 pilares de concreto de 20 x 20 cm que correspondem às 8 estacas necessárias e sustentam duas vigas longitudinais com 4,5 m de vão e 1,5 m de balanço. Sobre estas apóiam-se lajes nervuradas com 6 m de vão fundidas sobre tijolos cerâmicos (caixões perdidos). Tudo parece bem razoável e econômico.
2. Uma implantação adequada no terreno - O retângulo resultante da estrutura (16,5 x 6,0 m), se implantado no lado sul do terreno (respeitado o recuo lateral obrigatório de 2,0 m), deixa tanto para o norte espaço mais que suficiente para a insolação e conveniente para a vida ao ar livre em extensão da casa, bem como para leste uma área para um generoso jardim arborizado. Para oeste, a rua, dá a distância necessária para a rampa que vai levar os carros junto à cota do piso térreo, elevado 2,0 m acima da calçada (providência necessária face às enchentes eventuais e ao nível alto do lençol d'água subterrâneo). Como vocês desde o início queriam, a área ocupada vai ser pequena (106 m2) e corresponde a apenas 1/5 do terreno (526 m2). (Ver croquis 2)
3. Uma organização lógica do programa - A área de uso coletivo (estar, jantar e estúdio) orienta-se para nordeste, o sol da manhã, para que durante todo o dia esteja bem iluminada e que até parte da noite mantenha-se aquecida no inverno, quando o sol passa mais baixo nesta face. Já os dormitórios (contíguos como vocês pediram), se voltados para noroeste, pegarão o sol da tarde e guardarão o calor noite afora. Serão aí, entretanto, necessárias precauções contra o sol poente de verão na proteção das janelas. (Ver croquis 2)
A área de serviço (cozinha e lavanderia) deve ocupar posição contígua à garagem para facilitar o transporte das compras que chegam, a visão e o atendimento ao portão. Igualmente contígua, é sua relação com a sala de jantar e a escada que sobe para o piso superior. Assim, a área de serviço vai ficar entre a garagem aberta, na frente, e a sala, no fundo, e, será linear (mais eficiente) de lado a lado da casa, recebendo o sol de nordeste, com vista para a rua e constitui um canal para a ventilação cruzada sul/norte. Pelo recuo lateral sul (com varais junto à lavanderia) a empregada chegará à escadinha externa que sobe para as suas dependências no piso superior. Estas abrem também para o interior, para o estúdio/dormitório de hóspedes. Assim, ainda que independente agora, a área de empregada poderá mais tarde ter outra ocupação: fazer parte de uma ala com acesso próprio e completa (dormitório, banheiro e estúdio) para o André, quando crescer. Desde já fica estabelecida uma circulação contínua (superior/inferior, interior/exterior, social/serviço) através das duas escadas, o que tanto é pratico no uso diário da casa como estimulante para uma criança que gosta de correr. (Ver croquis 3)
As áreas que correspondem às funções do pavimento térreo - garagem (30,0 m2), cozinha (15,0 m2), sala (55,0 m2) - somadas (105,0 m2) excedem em 30,0 m2 a soma (75,0 m2) das áreas do piso superior - dormitórios (35,0 m2), banheiros e circulação (20,0 m2), estúdio (10,0 m2) e dependências da empregada (10,0 m2). A diferença de 30,0 m2 corresponde a um vazio para o pavimento superior, pé direito duplo para a sala, a integração entre as funções dos dois pavimentos, e, fundamentalmente, o espaço por meio do qual o sol de norte e nordeste banha praticamente toda a casa.
Esta vai, portanto, abrir-se francamente para o lado nordeste deixando que se constitua uma grande sala com piso atijolado, a soma do espaço interior com um pátio devidamente equipado com churrasqueira, pia e mesa para refeições ao ar livre. (Ver croquis 3)
4. Uma obra simples e econômica - A construção poderá ser bem despojada. A estrutura de concreto e as alvenarias de tijolos de barro não serão revestidas nem retocadas, mas totalmente pintadas segundo cores diversas que poderemos ensaiar em maquete. As instalações hidráulicas (salvo o banheiro de empregada) estarão concentradas numa prumada (caixa d'água na cobertura, banheiros no piso superior e cozinha e lavanderia no térreo). As instalações elétricas e hidráulicas, já que não haverá revestimentos, deverão ficar aparentes.
As aberturas, ainda que sejam relativamente amplas, não são onerosas: para a quase totalidade da face nordeste, elementos vazados pré-fabricados de concreto para colocação de vidros simples (3 mm), além de permitirem, pelo seu desenho, apenas a entrada do sol de inverno, são o elemento plástico necessário à correta constituição do espaço interno desejado.
Esses elementos vazados terão na obra uma utilização quase genérica, a ventilação sendo resolvida através de basculantes neles inseridos. (Ver croquis 4)
As janelas dos dormitórios devem ser do tipo de veneziana de enrolar, daquelas que podem também, quando empurradas, ficar inclinadas para fora, e, arejar e ao mesmo tempo sombrear, o que será necessário no verão como alertamos antes. (Ver croquis 4)
Já sei que temos algumas dúvidas quanto ao piso do andar superior (carpete?, tacos?) mas banheiros e cozinha já sabemos que podem ser de cimento queimado com pigmentos coloridos (e até mesmo nas suas paredes).
Espero ter conseguido, junto aos desenhos, explicar a casa de vocês. Como qualquer outra, ela não deixará de corresponder a seus donos. Neste momento, como procuramos desde o início, eu a vejo simples, verdadeira, luminosa, alegre e acolhedora.
Um abraço,
Marcos
#Memória posterior
As alvenarias de tijolos ficaram muito bonitas, o que, até hoje, nos impediu pintá-las.
O piso do andar superior é de tacos grandes, antigos, de demolição. O mesmo na sala. Cozinha e banheiros têm o piso de cimento queimado e as paredes de epóxi branco.
A solução inicial proposta no anteprojeto, conforme o texto acima, foi alterada já durante a construção da casa: a área ocupada pelo quarto de empregada e seu banheiro no pavimento superior foi ocupada por um estúdio, lugar de trabalho para o casal. O quarto e o banheiro de empregada foram construídos no fundo do lote como edícula.
Posteriormente (1991) com o crescimento dos filhos foi necessária a transformação do estúdio em dormitório com um banheiro para o maior. Um novo estúdio foi construído, então, junto ao quarto de empregada no fundo do terreno.#